sábado, 3 de abril de 2010

Um Cafajeste de 27 noivas, ou o Franco Atirador

Taí uma coisa que eu nunca havia feito. Eu acreditava que onde se ganha o pão não se comia a carne. E se eu botase a carne dentro do pão?
Sempre existe mais de um jeito de encarar uma idéia, ou lidar com um jogo. Ops. Eu quis dizer desejo. Não, eu queria dizer experiência.
Flertar no trabalho era uma experiência ausente no meu currículo. Talvez, eu me julgasse inapta: uma coisa era se render ao celetismo - outra coisa era levar o celetismo pra cama. Eu até pensei em frear aquele fluxo, pensei em pensar em outra coisa. Naturalmente, não tive muito êxito: o que seria de minha psicogafia - se não fosse a insubstituível dose mínima de Cafajestagem? 

Estava eu, portanto, mais uma vez descendo aquela conhecida rua. Aquela rua onde desembocam encontros e desencontros: aquele balaio de gato. Eu sabia que poderia adiar, sentia que devia abortar, e queria, sim, queria o risco mais uma vez. Porque a Cafajestagem é vista a olho nu e, mesmo assim, a gente paga pra (re)ver.
Começou como um jogo virtual: teclar cafajestagens. Os msns estariam monitorados? Não importava, era incontrolável. Era intermitente. E estava cada vez mais descarado.  É verdade: eu soltava umas que, algumas vezes, me custavam a vermelhidão da face. Eu não tinha mais controle da minha língua e, estupidamente, achava que poderia ter controle do resto do corpo: meu otimismo é um veneno homeopático.

Um dia dei com a língua nos dentes. Até então, os meus. Mas sabia que não se encerraria nisso. Eu tinha acendido o pavio: agora era ser chama ou ser vela. Vesti o personagem: salto nove, vestido de botões (muitos), calça leg, maquiagem. Cabelos molhados: eu sabia que ele os queria assim. Eu queria que ele os quisesse. Os cabelos, até então.
Mas nem só de figurino vive um enredo: existe, por exemplo, o cenário. Pertubadoramente organizado. Nenhum jonal em cima da mesa. Nenhum tênis dentro do banheiro. Ou roupa dentro do balde, ou louça dentro da pia. Talvez ele tenha produzido o ambiente, como eu produzi o figurino. Mas. Talvez fosse daquele jeito mesmo, de verdade, o tempo todo.

- Você nunca pensou em pregar uns quadros?

Infiltrações. Depois que o ex-proprietário as resolvesse, aí ele poderia fazer algo do tipo. Disse que tinha essa meta (ou tormento): comprar uma casa. Eu admiro. Eu teria caído no mundo. Mas, até o presente momento de minha vida financeira, só pude cair no Brasil. O mundo que me aguarde: eu não farei bacon do meu porquinho.
Depois de meia garrafa de um vinho acertado - miolo, semi seco - restou o vinho não-acertado. Doce. Mil vezes um Campari. Não havia, porém, nenhum Campari: havia uma Ipioca. Opa. Eu gosto do risco, mas eu tinha uma viagem marcada. Era necessário alguma moderação.
A coleção de filmes também não contou a meu favor: não havia nenhum filme ali que me prendesse a atenção com a intensidade que eu precisava. Bem ali, aliás, eu precisava era de um milagre ou de uma abdução. Obviamente, na falta de ambos, o que eu tinha era o tesão. Cada vez mais imperativo.
Atendi suas ordens, mas com alguma relutância: o que, inevitavelmente, prejudicou a execução das ordens. Fiquei com a sensação de ter gastado a bala, a filha-única. Contudo. Antes uma bala precipitada que uma roleta-russa retardatária.
Mas poderia ter sido um tiro mais certeiro, já que era um tiro só (?). Poderia ter sido no camarim, no banheiro (!). Não se anda pelo fogo-cruzado: a gente corre - cada vez mais veloz e nunca em linha reta.

Eu com um pé no século 22 e ele com dois pés no século 19. Uma bala jamais atravessaria tanta distância: disso eu tive consciência desde o princípio. Ele era um franco atirador: e eu adentrara as linhas inimigas. Com apenas uma bala.
Depois de tanto fogo, nada de mortos ou feridos. No fim desse conflito armado, o que restou foi a poeira. Mas logo logo a poeira baixa.