quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Quem paga o motel

Dia desses, corria uma discussão na lista (aliás, uma das) que participo: lista de emails, cerca de vinte pessoas. A questão era: quem deve pagar o motel, o homem ou a mulher?
De imediato, houve uma correção: a questão não podia se destinar apenas aos heterossexuais. Daí por diante, houve todo tipo de resposta - porque é uma questão que depende muito da situação. Pode ser combinado antes, se uma das partes estiver quebrada. Pode ser combinado depois, se uma das partes estiver disposta a quitar a dívida por completo. Depende, depende, depende. Mas, de um modo geral,  os votos ficaram em rachar a conta.
Bem, a última vez que fui ao motel, fui eu a pagar a conta. E isso dependeu de algumas coisas, como veremos.
Fomos pernoitar e combinamos de rachar a conta. Pela manhã, eu quis fazer algum exercício, sabe, pra começar o dia com o humor melhor. E, afinal, era pra isso que estávamos lá: ainda que tivéssemos mais dormido que qualquer outra coisa. Minha investida começou com sucesso porque, claro, acordei o, então, namorado de um jeito que, bem, desperta. No meio do caminho, porém, a coisa toda vacilou, uma diferença de timing. Ele foi tomar uma ducha e eu fiquei na cama, num tédio beirando o temido mau humor. Aí eu tive uma idéia.
Nesse ponto, naturalmente, todos já sabemos que foi uma idéia de jirico. Mas eu realmente nunca tinha feito aquilo e, se algo tão imperativo me dizia pra fazê-lo, olha, eu não devia discordar. De primeiro, eu só queria ver se o celular estava ligado ou desligado. Mas puta que pariu. Estava desligado.
Como cheguei nessa idéia? Não era um hábito, portanto, eu obviamente tirei aquela idéia de algum lugar. 
Na verdade, veio de dois lugares, de dois momentos. Quando a gente se encontrou e, cirurgicamente, ele desligou o celular. Ora, e por que isso?
Daí, naquele quarto de motel, eu resolvi achar o que o meu faro, imperativo, mandava que eu achasse. Liguei o celular e comecei a ler as mensagens da caixa de entrada. Depois, as mensagens da caixa de saída. Além de infiél, o cara era um amador. Estava tudo ali, tim tim por tim tim. 
Entrei numa novela mexicana, pensei. Até vestido de onça eu tinha: catei-o do chão e, cinicamente, me vesti. Sentei marmorizada na beira da cama e, tão logo ele abriu a porta do banheiro, eu perguntei:
- Quem é Fulana?
- ...
- E Sicrana?
Sim, eram duas, meus caros e caras. Isso que é um chifre bonito. Mas porra. Eu disse desde o começo: isso pode ser só um rolo, não tem porquê. Não, não, vamos namorar. Cheguei até a largar o breve amante de duas noites. Sabia que não ia durar muito, mas eu tinha dado minha palavra: vamos namorar. Na pior das hipóteses, isso coincide com um sistema de exclusividade - e esses termos são deles, não meus.
Quando um cara galinha não topa ter um rolo com você, o problema é bem mais fundo, não se trata apenas da mentira de uma relação monogâmica. É justamente nesse eu-te-amo-e-quero-só-você, que o cara entrega a dimensão do seu machismo.
Eu posso ficar com um cara infiél, quantas vezes a vida me permitir ou impôr. O que eu não posso é ficar com um cara machista. Nem fodendo.
É claro que eu me dei de presente algumas cenas mexicanas: talvez eu não tivesse outra oportunidade daquelas - o cenário, o conflito, vocês sabem. Joguei água na cara, gritei, pisei. Aí fui até a porta de serviços, aquele quartinho que existe nos motéis pra que você não precise ter contato com outro ser humano (além do(s) que dividem o quarto contigo). Fiquei lá até a mulher aparecer com a conta. Ela se assustou, mas disse que ia pegar a máquina pra passar o cartão, mesmo assim.
Quando voltou, ela tomou coragem de conversar comigo, enquanto eu passava TODA a conta no meu visa fodido:
- Você parece nervosa.
- Eu descobri que sou corna, foi só isso.
Entrei no carro, travei as portas e deixei o sujeito lá, rodado. Eu sabia que ele, no mínimo, teria que ir a pé até o próximo banco que, estando o motel numa BR, não era tão próximo. E pena. Tava um sol escaldante, um calor da moléstia.