segunda-feira, 23 de maio de 2011

Cafajestagem velada

De antemão, eu preciso dizer: no sex in here. Não fisicamente, digamos. Foi algo anterior ao sexo e, no entanto, mais marcante. Afinal de contas, não é todo dia (e ás vezes nem todo ano) que encontramos um gentleman. Aí que eu encontrei um verdadeiro representante desta espécie em extinção.
Participamos de um evento. Mal nos falamos neste, mas eis que o destino nos colocou lado a lado na van do retorno e a vontade nos colocou lado a lado no avião. Ele ficava no segundo destino, eu seguiria até um terceiro. Até essa escala, foram quatro horas de conversa mais ou menos. Ambos virados ou quase. Por que não vai lá em casa descansar um pouco? Uma hora e quarenta não daria tempo pra ir e voltar e ainda descansar, mas eu fui. Conversamos mais um tanto, dividimos um sofá. Cheguei a cinco minutos da decolagem e, alegremente, perdi o vôo. Foi tão cabalístico que nem taxa a compahia aérea me cobrou e ainda me deram um vaucher de refeição. Mas eu não queria comer, queria era passar mais um tempo com ele. Gentileza vicia.
Voltamos pra casa dele. Agora tínhamos mais de quatro horas. Conversamos mais um bocado e dividimos uma cama. Não ficamos, nenhum movimento nesse sentido - salvo os subliminares. Acordamos e ele me levou pra, enfim, comer - no lugar que eu escolhesse. Nunca houve um milkshake tão saboroso e um hamburguer tão suculento. 
Depois, ele fez pela terceira vez o caminho do aeroporto. Eu tinha um sorriso de orelha a orelha, e eram orelhas de abano. Vá lá que trocamos emails "profissionais" desde então, mas, aquela alegria ainda pulsa. Um tipo de alegria que eu não sentia há um bom tempo. Acho que o nome técnico é encantamento.
Ele não é o tipo sex symbol, e seria apenas um cara boa pinta, se não fosse a sua extrema gentileza e, claro, o seu currículo. Porque estudar cinema em New York, vamos combinar, é quase um afrodisíaco. Voltar ao Brasil e militar, então, é  mais eficaz que salada de ostras e ovo de codorna salpicada com nozes e amêndoas. E isso é porque eu não falei do sorriso.
Sabe aquele sorriso que ilumina? O rosto e o ambiente todo? Exatamente esse. O cara pareceu-me bem sério, obtuso, mas depois daquele sorriso...veio-me só a candura. E isso é porque não falei da voz. Uma voz de homem curtido,  jack daniel's.
Não, gente, deixa disso. Eu não estou apaixonada e tampouco tenho a disposição de gastar metade do meu curto salário com passagens aéreas. Estou encantada. É um estado de espírito que alcançamos quando se lê um poema - ou quando se conhece um gentleman. Sendo que, no primeiro caso, a internet é uma aliada. No segundo, só dá pra contar com o acaso - e um bom punhado de sorte.
Numa coincidência, eu voltei à cidade da escala na mesma semana. Celular desligado, produtora não encontrada. Mandei uma mensagem, mas não quis insistir. Encantamento é o tipo de coisa que requer uma certa distância: pois, de perto, ninguém é elipsoidal.