quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Há pouco mais de um mês, me envolvi com um representante legítimo da ala circense. Paquera vai, paquera vem, beijinhos pra lá, amassos pra cá. Num momento raro de intuição, me dou conta de que não fiz uma
pergunta básica: se o cara tinha algum tipo compromisso, namoro, casamento ou relação prazerosa sem fins reprodutivos. E o palhaço responde com a cara mais lavada do mundo: tenho namorada.

 

É claro que o cara contou toda uma história complexa sobre seu relacionamento aberto, sobre a namorada também ficar com outras pessoas, sobre como eu era bonita e nossa, que sintonia a gente tem, vem cá, toma um beijinho. E é claro que eu caí, porque mulher que é mulher cai na lábia de alguns palhaços, principalmente de um palhaço gato e depois de uns chopes, cof.



Eis que por motivos técnicos (cof), não finalizei a noite com o infame. Chegando em casa, recebo uma mensagem:



- Fernanda, que pena que não pudemos terminar a noite juntos, gostei muito de você, rolou uma sintonia bacana, e por gostar muito de você, preciso falar que eu não moro sozinho, sou casado e minha mulher está grávida de 8 meses. Ela não estava em casa porque foi para a casa da mãe. Me desculpe, quero te encontrar ainda.



Em choque, só respondi:



- Safado, crápula, sem vergonha Putz, nem sei o que dizer. Você devia ter sido sincero comigo. Enfim, seja feliz.


Apaguei o número. O cara ainda me mandou mais umas mensagens, todas no tom de "gostei demais de você, se quiser tem mais". PODRE.


Eis que essa semana eu estou aqui trabalhando feliz (NOT) e recebo uma mensagem de um número desconhecido: "Você sumiu...". Ok, MEDO. Em seguida, outra: "Saudade que não tem fim...".



Curiosa que sou, respondo: "Opa, quem é?" E a resposta: "É o Palhaço, de tal lugar". Olha, eu até andei perdendo um pouco da minha dignidade por aí, mas ainda me restou alguma coisa, é claro que nem respondi.



Mas né, palhaço não sabe reconhecer os sinais, e continuou me mandando torpedinhos, até que recebo: "Sei que somos proibidos um para o outro, mas eu te quero...".



gente, sério. Que o cara é babaca, tá claro. Mas precisava ser brega assim, meodeos?
 
 
  

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Ser Cafajeste é uma arte!

Não concordo com esse negócio de que "está faltando homem",tá nada,homem tem em todo lugar.
O que já não tem mais são os Cafajestes,ah aqueles bons cafajestes de olhares e riso manso.
Esses não se encontram mais pela boemia.
E como tudo nesses tempos moderninhos o que encontramos?
Suas cópias mal feitas e desajeitadas,seguidores sem talento para tal arte:A CAFAJESTAGEM.
Tal arte confudida com calhordisse e falta de caráter.
Homens não resolvidos e medrosos.
O comodismo é tanto que não se dão se que ao trabalho de fazer uma cópia fiel ou algo que se aproxime do verdadeiro.
Os cafajestes de antigamente ao menos mandavam flores no outro dia...



Ana Carolina.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Uma dose de filosofia cafajeste

A Cafajestagem é algo que vicia. Desde que entrei nesse mundo, não consigo sair. Desde então, são muitos os poemas que eu não fiz e as matérias que não elaborei. Desse jeito, logo em breve, os meus escritos só vão prestar pra duas coisas mesmo: publicidade e cafajestagem.
Notem que ambas podem ser inseridas no mesmo campo semântico, sem forçar a barra. É ou não é? 
Pois é aqui que me encontro, é nesse lugar que incorre a minha literatura atualmente. Dá pra imaginar um destino mais cafajeste que esse?
Sempre dá.
A ironia é justamente essa: feministas, machistas, convencionais, transgressoras: não há mulher que passe pela vida sem trombar com um Cafajeste quando em vez. e o problema é que, algumas vezes, a coisa não fica só no trombo...Na verdade, o trombo pode ser só o começo.
O olhar de um Cafajeste pode nos levar às drogas mais pesadas.
Se você se deixar levar.
Porque a Cafajestagem também é objeto de estudo. Mantendo um olhar objetivo é possível driblar a Cafajestagem. Não é preciso ir pra casa abrir uma garrafa de vinho depois do coquetel...
No entanto, há casos em que a subjetividade mela a pesquisa. Acontece nos melhores projetos.
Aí, meu bem, é abrir mão do cientificismo e lançar mão da espiritualidade.
Que uma vez cavalo, a gente não tem que responder por nada depois.
Não resta nem o bafo de cachaça pra contar a história.
De um jeito ou de outro, o registro não pode se perder.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

O homem perfeito



As duas amigas conversavam no bar. Algumas cervejas na mente e uma delas sugere uma rodada de tequila. Por que não?


Marina e Cecília se conheceram quando a primeira namorava o Luiz. Acho até que foi ele que apresentou as duas. Nunca foi plenamente esclarecido se houve uma intersecção temporal entre a fase do fim no namoro da Marina e o começo do rolo que o Luiz teve por alguns meses com a Cecília, mas isso também nunca foi investigado a fundo.


Demoraria ainda antes que elas voltassem a se falar. A Ciça não sabe, mas a Marina voltou a pegar o Luiz, fato determinante pra ela perceber que ele realmente não valia a pena. Foi importante para a amizade das duas o dia em que, numa conversa sobre o Luiz, Cecília chorou no colo da Marina (menos por culpa do que pelo acolhimento inesperado da antiga rival), quando o ex comum já era para as duas um nome do passado.


As duas acabaram se tornando, a despeito das probabilidades, companheiras de solteirice e fuleragem. Conversavam agora sobre a noite anterior.


Marina: E na balada ontem, o cara lá falando da eterna busca de um sentido inexistente.
Cecília: E você olhando pra ele e dizendo “me come”.
Marina: Tipo isso. Cada vez mais bêbada, todo mundo indo embora e o cara lá falando. Eu só pensava "mais uma noite perdida".
Cecília: Uma dose de canalhice é importante pra acelerar as coisas, né. Manter o suspense.
Marina: Pra mim pode ser dupla, que eu já criei resistência.
Cecília: No começo é divertido. Foda é quando você resolve namorar e o sujeito não tira nunca da cara aquele olhar de "te peguei / vou te pegar" pra toda mina que passa.
Marina: Aí você faz igual, de preferência com os amigos dele.
Cecília: Ai, que preguiça.
Marina: Vai dizer que você prefere os românticos.
Cecília: Ah, eu gosto. Pronto, falei. Aquele que você acorda no meio da noite e ele tá te olhando dormir com cara de apaixonado. 
Marina: Acho que eu ia ficar assustada.
Cecília: Só depois dos três primeiros meses. No começo é muito fofo.
Marina: Por isso que eu gosto do Lucas. Eu mando mensagem, ele liga de volta na hora. Nem troca idéia, diz só "onde você tá? Tô passando aí". Aí ele vem, faz o serviço, não liga no dia seguinte. Sem imprevisto, sem DR, o homem perfeito.
Cecília: Perfeito eu não sei, mas parece um bom custo-benefício.
Marina: Vou te dizer que é, viu. Garçom, mais duas tequilas, por favor.

EM: www.calmae.blogspot.com



segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Não é o que você está pensando

Este blog é um instrumento de exorcismo.
É pra expulsar demônios e vômitos.
E, no meio disso, é claro que tem muita coisa podre, fétida, gosmenta.
Esta que vos fala e modera textos e comentários não está aqui pra julgar ninguém.
Não passou nem na porta de uma faculdade de direito.
E ainda que tivesse adentrado em vários tipos de igreja, não permaneceu em nenhuma delas.
Porque o juízo final não está lá, está bem aqui. Em cada olhar torto.  
Lie to me.
...
Vamoquevamo.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A Comida Está Servida

O cafa quer te comer
E você realmente quer ser o prato
De entrada
O principal
A saladinha básica
O arroz com feijão
Nos dias comuns
E o caviar
Para todas as outras ocasiões


O cafa quer te pegar
Sim
Te pegar
Ele grita
Assume pra quem quiser
Não há problemas em falar
Sim.
Mas só pegar


E ele é o pior
Antes do estrago
Revela o que vai fazer
Sem joguetes
Ou falsidades


Vou te comer meu bem
Não vou me apaixonar
Amor é piada
Ponto
Pronto
Vem
Corre
Tira a roupa


Mentira
Ele não é tão seco assim
Entre as inteiras sinceras ríspidas verdades
Mostra suas qualidades


Em meio a tanto amargo
Sabe que precisa jogar um melzinho na tua boca
Mesmo que junto com o doce
As abelhas acabem indo de brinde
Picando teu corpo
Inchando tua garganta
Só pra te dar aquela sensação de ai meu deus estou gorda
Pura insegurança ensaiada


Ah vamos logo com isso
Chega de cara lavada
E diz
Oi não presto
Mas vamos brincar por algumas horas


E você de maquiagem pesada
Tenta disfarçar
Com lápis de olho super marcado
Pó compacto
Amassa a esperança
Entre a pele
E a paixão


Esconde que talvez você possa acreditar em um talvez
Ah sei lá
Vai que eu o surpreenda na cama
E pô, ele pode gamar


Não querida
Cama ele tem com quem quiser
É só olhar
Jogar o charme
Por que cafas tem charme
Pode ser o capeta que for
Feio pra caraleo
Mas na hora do vamos comer tem charme sim meu bem

E você as vezes então age ao contrário
Finge que é cafa também
Que está ali só pro vai e vem
O batidão frenético do entra e sai
Mas ah queridinha
Os cafas são espertos
Sentem o cheiro

Em: Qualquer Bobagem - www.nanacae.blogspot.com

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Nona esfera ou a arte de não ser devorada pela serpente

"Necessitamos nascer e isso de nascer é, foi e será sempre um problema absolutamente sexual. É necessário nascer e para tal tem-se que descer à Nona Esfera." Ensinamentos gnósticos




Dante (minha versão)
Que Dante Alighieri tivesse me aparecido na forma de um boçal, facto. Li que Dante vem de durante, e isso me faz lembrar de algo. Vamos a divina comédia. Devo começar pelo paraíso, afinal, no começo tudo são flores. Homens, eternos tragicômicos.


PARAÍSO
Lembro que o conheci num pub. Gostei de seus cabelos. E da voz também. Não me lembro onde paramos naquela noite. Certamente não na casa dele. Talvez porque eu tivesse engatada um relacionamento - paralelo.


PURGATÖRIO
O sofrimento, instala-se, então, quando chego em seu apê: segundo encontro. Ele está de roupão e toca violão. Desafinado. Cabelos molhados. Aguento sua falta de ritmo por alguns instantes. "Ah, que bela voz você tem, só falta ritmo e afinação", tenho ditoi. Fomos para a cama. Dante tinha uma enorme geba que me custou muito para ser encorpada. Acho que nem gozei. Ninguém precisa de um pau tão grande assim. Muito menos meu útero. Depois, em outra ocasião, encontrei-o numa festa e fui deixá-lo em casa. Ele propôs uma suruba entre eu, ele e minha amiga. Aquilo era só uma carona. Uma cortesia. Dante já não me causava menor excitação. Pateta. Talvez porque fosse mais estúpido e inconveniente do que parecia. Gente que não se toca tá por fora. Não estou falando de punheta. Abomino inconvenientes. Mas tudo passa, principalmente um tipo desses.

INFERNO

Encontrar Dantes pelos bares mais decrépitos da cidade. Decadente com os gêmeos-cocaine do "Nappers", ou simplesmente "Narizes" - um bar reggae. Um dia passou e me pediu um cigarro. Eu disse "não, sou viciada". Sempre lembrando ao fato (fato) de que Dante foi para o inferno (o do lado de lá, bem longe do meu) quando veio me visitar - isso antes desses reencontros de ignoração mútua - ou a arte de não se cumprimentar, comumente praticada em Brasa City. O inferno são os outros, já dizia Wilde. Sentamos em baixo do bloco. Pediu que eu o chupasse, e em menos de um minuto gozou na minha boca. Reação: cuspi na cara de Dante. Não por causa da porra, que eu até poderia ter engolido se ele tivesse pedido. Mas a canalhice, o olhar de campeão, a CAFAGESTAGEM e a má-fé. Tudo que ele queria. Gozar na minha boca sem a minha permissão soa como se dissesse algo que não posso engolir de um homem. Nunca. A trapaça e o jogo sujo. Nem mesmo porque chamasse Dante, aque que "goza durante".

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Cafajestagem sem preconceito

Por meio desse venho falar de uma Cafa, mas essa não é uma cafa qualquer, ela é foda em todos os sentidos da palavra.

Gosto da voz e do olhar também, o jeito informal mais sexy de ser. Com um marlboro light na mão a cafa me fala sobre sua sexualidade:

“Olha, tipo assim, se não tiver nenhum homem interessante por perto.... mas falta algo”...

Chocava-me a cada palavra, e o desdobramento disso tudo ainda me espanta.

Ora, a bela jovem faz sucessos com garotas!

Mas são elas as vítimas de sua cólera contra os cafas de sexo masculino, ação e reação, desconta tudo sem tirar nem por.

Com homens sempre teve relacionamentos conturbados, e dos cafas de muitos tipos já experimentou. Tem “sangue doce” como dizem por ai. Viu de tudo e sempre que pensa estar vacinada cai na lábia de um deles, mas cai mesmo, com tudo.

No fim, as pobres moças ficam com o olhar perdido ao ver a protagonista de nossa história acender um cigarro e falar como se nada tivesse acontecido.

Apaixonam-se por essa amante louca e desumana, a chave de cadeia que mexe com o imaginário de qualquer mulher solitária....

Elas pensam ser a mulher certa, aquela que mudará tudo, a conversora de lésbicas não praticantes, pobres coitadas, não dura muito, no máximo algumas horas.

E ela simplesmente adora o fato de ser desejada, essa não foi a primeira e nem a última, a cafa de linha cujo me refiro tem sede de vingança.

Após chorar as mágoas do “gato e sapato” que foi feita, sorri e fala sobre mais uma das pobres que pensaram ser pra mais de uma noite, e ela vai contando...

ascende mais um cigarro e os papéis de vilã e heroína da cafajestagem se invertem a todo momento, depende do sexo em questão.

Nunca vi algo tão paradoxal.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

o meu Cafa Predileto, atualmente

Estamos atrás da interlocução, sobretudo. Acreditamos que atrás de um, vai  todo o coletivo.
Um Cafa é como o Wally: basta olhar o quadro mais de uma vez. E você ira encontrá-lo. Ele sempre está ali: seja a multidão que for.
Quem não é Cafa; já foi. Ou será.
Cafajestes não são todos iguais. Para cada ciclo da vida, existe um cafajeste mais ou menos justificável. Quando tudo está perdido, sempre existe um pinto amigo.
Sobre a cafajestagem: onde se discute o que é cafajeste. Onde, também, o sobrepujamos.
MANDEM SUAS MEMÓRIAS PARA nenhumdelespresta@gmail.com
Porque viver é fazer backup. Se você não faz por bem, faz por mal. CORPOMENTE, uma equação escorregadia, cheia de curvas. Haja petróleo. Haja memória. Haja cerveja.
Passar um salzinho na borda do copo: este é o verdadeiro pré-sal. Copa do Mundo e Olimpíadas, com um ano de intervalo, no Rio de Janeiro. Veja: eu não sei se me torço de chorar ou se me cago de rir. De um jeito ou de outro, todos já sentimos o cheiro de algum estrago. Ou, de antemão, escutamos os tiros. Eu disse tiros? Não, eu quis dizer fogos de artifício.
Porémcontudotodavia. Todavia é possível, toda via é armar. Toda forma de publicidade vale a pena, toda forma de aloprar vale tentar. Fica a dica. Uni-vos. Haverá platéia para uma intervenção: imaginem, ao mesmo tempo, os fãs de roberto carlos e os torcedores do flamengo.
Foi no Rio, ora, que eu vi uma galera vestida de preto, espalhando-se pelo centro da cidade, logo após a eleição de eduardo paes. Foi no Rio, depois de 6 anos em Brasília. Nunca me esquecerei do dia em que, em  apoio moral a um projeto de bundalêle coletivo na esplanada, em protesto a pontos da reforma universitária: eu baixei as calças  no estacionamento dum museu. Fui a única, dentre 15 pessoas. Um blefe.
Mas no centro histórico do Rio, eu vi uma corte em movimento, intervindo, enroscando o nó da cidade, fazendo uma peregrinação popular em torno dum caixão onde morria a democracia. Ou, então, uma idéia mais verde.
Ciente de que a colonização é vermelha.
E periódica.
Os períodos não são exclusividade femina, naturalmente. O que perverte a noção do cíclico é a simbologia acerca do que pode ou não caber na figura de uma mulher, ou de lilith. Mas de quem estamos mesmo falando: de qualquer ou de toda mulher?
E se, em vez do cristo redentor de braços abertos, fosse maria madalena de braços cruzados, protegendo-se das pedras? Não muito feminista, ou otimista.
Qual é a polêmica, dessa vez?
A Cafajestagem está na tevê, na igreja, nas urnas, na esplanada; numa cama mal-arrumada.
A colonização é magenta.
E sistêmica.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Uma questão de posição (Nenhum de nós presta, de facto)

Cafa 1 (18:15)
iaeam


Cafa 2 (18:16)
nhae
tô no faxinão aqui


Cafa 1 (18:16)
cobra quanto?


Cafa 2 (18:17)
mermo preço da foda


Cafa 1 (18:17)
ah, então a foda dá direito a uma faxina tb?


Cafa 2 (18:18)
é, pode ser
pacote fechado


Cafa 1 (18:18)
ahuahuahhua


Cafa 2 (18:18)
Amélia
hoho
tá na Bahia ainda?


Cafa 1 (18:19)

volto só segunda


Cafa 2 (18:20)
oh maravilha
tá indo pra praia todo dia?


Cafa 1 (18:24)
todo
tá com saudade de mim já?


Cafa 2 (18:25)
pra mim tu continua no mesmo lugar
ou seja - em volta do pau


Cafa 1 (18:26)
e vc devia estar no meio


Cafa 2 (18:28)
hoho

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Lobo em pele de Cordeiro

Eu estava naquela dúvida: são tantos casos, por onde começar? Não sabia se começava pelo maior Cafa de todos ou se começava pelo Cafa mais recente. Só que nessa última semana, eu topei duas vezes - sendo que há muito muito eu não topava - com um tipo peculiar de Cafa: o Lobo em pele de Cordeiro. Porque mulher tem mesmo uma queda por Malandros, Cafajestes e Desajustados. Eu, por exemplo, tenho um currículo extenso em Desajustados, do tipo artistas ou maconheiros ou ambos. Quando um cara é Desajustado, ele não pode esconder isso por muito tempo. Daí, se a mulher persiste é por conta e risco dela. Malandros e Cafajestes, porém, são espécies mais dissimuladas e sorrateiras. E, dentre os Cafajestes, o Lobo em Pele de Cordeiro é, sem dúvida, o tipo mais sórdido.


Chamava-se Túlio*, tinha 31 anos e era advogado. Advogava tanto na iniciativa privada quanto na pública, e tinha um daqueles carros de quem está na crise da meia-idade. Só andava de terno, usava óculos, tinha uma filha e já havia noivado. Abria a porta do carro e pagava a conta. Eu pensei: Deus - e não Jah - escutou as minhas preces. Nem beber, ele bebia. Era escoteiro e jogava RPG há 15 anos.Tá certo: no princípio, eu achava que Deus tinha pegado pesado demais. Aquela velha história: tome cuidado com o quê você pede.


O cara era certinho demais e eu tenho alergia ao que é politicamente correto em demasia. Vá lá que eu queria me regenerar, largar a boemia e a putaria, mas aquilo me cheirava mais à punição que ao perdão. Eu achava isso até ir pra cama com ele. Porque este Cafa certamente entrou pra lista dos Top Five. Se houve algo que esse grande cafajeste me ensinou foi: quem vê cara não vê tesão e, muito menos, escrotidão. O Cara era bom mesmo, mas, infelizmente, ele sabia disso. Acredito até que ele colocasse o desempenho sexual dele no mesmo hall onde colocava o seu carro e as suas medalhas de escoteiro: o hall das vaidades. Ou seja, uma grande estupidez porque sexo é um diálogo e não um monólogo: é estúpido achar que você sozinho pode se garantir. Apesar disso, eu continuava dando loucamente pra ele e querendo dar ainda mais. Nunca era suficiente, e eu tenho quase certeza que ele achava que eu era uma ninfo de carteirinha. Eu conheço ninfomaníacas legítimas e garanto que não chego nem perto. O que ocorria era que havia mais de seis meses que eu não encontrava um parceiro com um potencial daqueles. E olhando pra trás, eu fiz a coisa certa: durou muito pouco pra eu ainda ter perdido tempo com atividades lúdicas ou conversas filosóficas.


O Lobo em pele de Cordeiro se infiltrou na minha casa, como um vírus: eu escaneei bem a cena antes, mas ele invadiu de qualquer jeito. Na primeiríssima vez que ele foi me buscar em casa, ele me perguntou se eu não ia apresentá-lo. Eu disse que era claro que não. Ele perguntou porquê: eu poderia apresentá-lo como um amigo. Eu respondi que era óbvio que, se fosse necessário, eu o apresentaria como um amigo e não como o cara pra quem eu estava dando. Mas não havia necessidade nenhuma. Na segunda vez em que ele foi me buscar em casa, eu liguei pra ele assim que saí do banho e pedi que me désse um toque no celular quando estivesse na porta de casa. Ele perguntou se não podia bater na campainha. Eu quis ser educada e disse que podia, mas deixei claro que era prefirível ele ligar no celular. O quê ele fez? Bateu na campainha, apresentou-se aos meus pais e ao meu irmão. Eu saí com ele à noite e voltei só no outro dia: ainda precisava dizer alguma coisa à minha família? 


E houve o dia seguinte ao dia que eu bodei e não fui numa balada. Saí da casa dele dizendo que eu ia e que queria que ele fôsse. Ele disse que não ia mesmo, que estava cansado. Eu não queria ir de carro porque estava a fim de beber e pedi carona a uma amiga. Ela demorou tanto a chegar que eu dormi. E quando eu durmo, o mundo pode se acabar: eu só vou acordar no além. Ele foi, encontrou minha amiga e eles ficaram me ligando freneticamente no telefone de casa e no meu celular. Nesse momento, ele aproveitou pra pegar meu telefone lá de casa, o qual eu não havia lhe dado. O celular descarregou e eu tirei o cabo do telefone. No dia seguinte, ainda de manhã, ele apareceu lá em casa sem ligar antes: leu o jornal do meu pai e comeu o pão-de-queijo da minha mãe. No meio-tempo, me perguntou porquê eu não tinha ido e nem atendido ao meu telefone. O que se pensa numa hora dessas? Estou namorando e esqueceram de me avisar. 


Normalmente, eu entraria numa crise de pânico, mas eu estava tão a fim do cara que resolvi encarar a bagaça. Aí foi o início de minha bancarrota: Cafajestes só lhe cortejam quando acham que você não está no papo. Se sentirem cheiro de paixonite, meu bem, prepare-se pra tomar aquele chá de sumiço. O cara me ligava todo santo dia. Eu lembro de um dia em que ficamos cerca de dez horas sem nos falarmos e ele me ligou perguntando se eu o havia esquecido. Quando ele ligava lá em casa e eu não estava, minha mãe anotava os recados, toda solícita e feliz por eu ter arranjado um cara decente. 


Daí, ele fez uma viagem à trabalho. Eram pra ser dois dias, mas viraram quatro. Até aí tudo bem, mas eu fiquei sem entender porquê nos falamos uma única vez nesses dias e fui eu quem ligou. Quando ele chegou, ele me ligou; mas eu perdi a chamada  e esperei dar a hora que ele saía da aula pra ligar de volta. Liguei três vezes, de dois números diferentes, com intervalos de uma hora: não é neurose não, é feeling. Ele retornou para o número que não era o meu, era o da produtora. Disse que ia me retornar sim, estava só retornando primeiro para os números desconhecidos. Mudou de assunto: vamos fazer alguma coisa, vamos sair. Eu disse que estava cansada, tinha trabalhado dez horas em pleno sabadão. Ele disse que era pra eu me animar: ele também precisaria trabalhar mais um pouco e me ligava assim que desocupasse, por volta de 11 da noite. Eu resolvi ir tomar umas com uma amiga, enquanto esperava a famigerada ligação. Três horas da manhã, eu não tinha recebido ligação nenhuma, e já estava numa festinha na casa dum amigo, bêbada e nadando na piscina de calcinha e top. 


No dia seguinte, à tarde, naquele misto de ressaca e mágoa, eu mandei uma mensagem: argh, chá de sumiço é azedo, não achei que esse tipo de coisa coubesse no seu cavalheirismo. Digam aí, fui até bem razoável. Ele não respondeu e só veio ligar na terça: eu estava no meio de uma produção de fotos dum evento e realmente não podia atender. Ligou uma vez só e eu pensei: não vou retornar tão cedo, vamos ver se ele ligou só pra constar nos autos. Eu estava certa. Retornei só na sexta. E no sábado. Já meio tarde, mas nem tanto: por volta de meia-noite. Ele não atendeu e não retornou. No domingo à noite, eu mandei outra mensagem, mais melodramática desta vez: eu estava sofrendo mesmo, porra. Ele não respondeu. Uns dez dias depois, eu conversando com um amigo, e este me disse: você fez tudo o que ele queria. Porque terminar por mensagem é, de fato, o jeito mais confortável possível. Eu catei o celular do meu amigo e liguei pra ele: é claro que ele atendeu. Disse que tínhamos que conversar, com certeza, como não, e que me ligaria pra marcarmos. Ele ligou pra você? Pra mim, não ligou não.

Três meses depois, eu topo com o escroto num barzinho dos mais alternativos. Ele estava bebendo, fumando igual puta no corredor da morte, e pegando uma pseudo-hippie bem baranguete. Teve a duríssima cara-de-pau de me cumprimentar e ainda ficava me olhando, o tempo todo, de rabo de olho. Não satisfeito, ainda encurralou um amigo meu num canto e foi dar a sua versão deturpada dos fatos. Gente, é um Cafajeste nato. Foi péssimo revê-lo: aquele rebuliço interno como se eu tivesse tomado a garrafada de banha de galinha, agrião e mel (que minha vó fazia quando éramos crianças e estávamos doentes). Na segunda vez, no entanto, foi mais tranquilo. E olha que foi dois dias depois, num butequinho sujo. Mas não deu nada: ele veio me cumprimentar de novo e eu dei aquele sorrisinho amarelo do tipo vai-chupar-prego.



Lobo em pele de Cordeiro: eu sobrevivi.