quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Mais uma dose de Cafajestagem

Bartenders estão no palco da balada. Ainda mais se não há show ao vivo na balada. Porque o DJ fica meio à parte, protegido em sua cabine. Bartender não: tá ali, abrindo aquele sorriso pra você toda hora que se chega ao balcão. Vai querer o quê?

Às vezes, mesmo que avisadas, a gente quer mais do que um drink. A gente sabe que não é uma boa idéia, mas pede uma caninha e ainda joga charme pra ganhar um chorinho. Não dá pra tomar vinho na balada, então vamos logo de cachaça, pra mostrar a que viemos.

Foi eu botar os pés na boate e eu quis aquele bartender. Meu amigo:

- Calma, raposa. Ainda há muito pra se ver por aqui.

- Eu bem que queria acreditar nisso. Ficar a fim do bartender é muita função: tem que sobreviver até o fim da noite e beber horrores.

- Bem pensado. Vamos dar um rolé. Posso fingir que estou te querendo pra instigar os homens ao redor. Em meia hora, eu vou estrategicamente ao banheiro e, quando eu voltar, você nem se lembrará mais do garçom.

- É bartender. Obrigada, amigo. Geralmente, isso ajuda sim.


Mas eu sabia que aquilo era otimismo descabido. Desde a hora em que pus os olhos no bartender, eu sabia, eu ouvi aquela voz maldita dentro de mim: se fodeu, querida, foi fisgada por um Cafageste de novo. Eu até dei um rolé pela balada, paguei de cobiçada com meu brother, mas, na terceira dose de cachaça eu o avisei: vamos ter que ficar até o final.
No fim, ele não se importou: tomamos algumas bebidas de graça e fomos pra um after na casa de outro cara, onde ele, cof, curtiu a atmosfera. Naquele momento, eu já era uma das cataratas do Niágara. Era um caminho sem volta.
É claro que foi ótimo, estamos falando de um profissional da noite aqui: pessoas que acreditam que ser junkie é uma filosofia de vida. Não são como eu e você que sentem remorso ou medo depois de um porre românico. Pra dar uma imagem: a versão dele de um café na cama era um cigarro antes do café. Tudo bem, num mundo carente de cavalheirismo, o que vale é a intenção. Nesse sentido, eu também achava que ele tinha outra qualidade: era o supersincero. Porque mais vale um tapa na cara que uma punhalada nas costas. Transcrevo mais ou menos alguns diálogos ilustrativos.


- O quê foi isso no seu joelho?

- Você quer mesmo saber?

- Quero mais não, porém não posso passar pagar de insegura. Uai, quero...

- Há três dias eu saí da balada com uma garota, muito doido, e fomos trepar na casa dela...

- Óquei. Entendi.

...


- Estou querendo ir na boate amanhã, o que você acha?

- No sábado tem uma mina que cola lá, a gente sempre fica quando se vê, mas tá longe de ser um namoro...

- Glup, acho que engasguei, graças a deus to no MSN. Tudo bem, pelo menos você me avisou antes...então, é isso. Vou embora sem te ver.

- Não, sua doida. Você não está livre no domingo?


No domingo, ele apareceu no MSN às 9 da noite. Ele não tinha celular (como eu disse, um profissional), e eu não achava de bom tom ficar ligando na casa dele (mora com a mãe).


- Desculpa.

- ...

- Só acordei agora. E descobri ontem que vou ter que trampar hoje por causa do feriado.

- ...

- Os caras do meu trampo são muito legais...

- Aquilo é um antro, um cortiço e você é o pior deles. Acontece. Mas eu te disse que 2.000 quilômetros é chão demais. Eu queria te ver antes de ir, mas já era.

- Eu também queria.

- Queria mesmo?

- Sim sim. Amanhã?


No dia seguinte, véspera de minha partida, ele nem se deu ao trabalho de aparecer no MSN. Eu até liguei uma vez em sua casa (eu não morava ali, whatever), mas às 3 da tarde ele ainda dormia. Eu mantive o MSN ligado até uma da manhã. Desconfio que, em algum momento, ele esteve lá...mas invisível.


Mais uma dose...é claro que eu to fim. A noite nunca tem fim. Por quê a gente é assim?

2 comentários:

  1. Esse tipo de cafajeste segue o mesmo modus operandis da bebedeira, outro fator importante na noite. por maior que seja a ressaca, por mais que prometamos nunca mais beber no dia seguinte, repetimos a dose na primeira oportunidade.

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  2. Sabe pq amiga, Mais uma dose? É claro!
    É claro que eu tô a fim
    A noite nunca tem fim
    Por que quê a gente é assim?

    Agora fica comigo
    E não, não
    Não desgruda de mim
    Vê se ao menos me engole
    Não me mastigue assim...

    Canibais de nós mesmos
    Antes que a terra nos coma
    Cem gramas, sem dramas
    Por que quê a gente é assim?

    Mais uma dose? É claro!
    É claro que eu tô a fim
    A noite nunca tem fim
    Por que quê a gente é assim? pq a melhor parte da música, é o que a gente mais quer:

    Você tem exatamente
    Três mil horas
    Prá parar de me beijar
    Meu bem, você tem tudo
    Tudo prá me conquistar...
    Você tem apenas um segundo
    Um segundo
    Prá aprender a me amar
    Você tem a vida inteira
    Baby!
    A vida inteira
    Prá me devorar...

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