quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Para todas as outras coisas existe Mastercard

Falar do cafa anos depois certamente alivia ou quase transcende a ira sentida. Mas esse vale a pena. Vocês vão entender como com Alex tudo valeu a pena.

O nome é esse mesmo. Jogador de basquete do time da cidade. Reluzente fruto ebanoso de Franca (SP), o berço do baloncesto no país.

Ai, Alex, um e noventa por noventa. Braços alongados de quem arremessa desde os nove anos. A-tle-ta, meu povo. E tenho o dito. Seu corpo constituía-se de um grande bloco de cimento. Estou dizendo, mais de vinte anos treinando quase todo santo dia somados à genética que só a cor preta traz consigo. Pra não falar do sorrisão impecávelcintilante.

Passei muitíssimo bem.

Foi um lance, nunca uma paixão. Tá, antes da transa se consumar, o que só aconteceu um mês depois do beijo dado e da primeira apalpada – morávamos lejos um do outro –, eu achei que pudesse me apaixonar. Mas a total incongruência de pensamentos e objetivos logo me deixou claro que seria apenas sexo, da melhor qualidade que eu já havia provado. No sentido mercadoria, não desempenho. Porque, minha irmã, se você não sabe, eu te conto: transar com negão jogador de basquete tem que ter disposição. Coisa que me falta depois que gozo. Ainda mais com uma pingola daquela, jesus me acode! “É chegado o momento que temias”, resumiu uma irmã.

Alex era um duro. Família humilde, bando de irmãos, nunca falou de pai. Idolatrava a mãe. Até eu a idolatrei, por ter parido aquele deus.

A gente transava em motel. Nossos encontros eram bimestrais ou mais espaçados. Duraram por quase um ano. Ele me dava um toquinho, eu ligava de volta, passava na casa dele, botava no carona e íamos para um barzinho qualquer, cumprir o protocolo do date. Cada um paga o seu, “Vamos dar uma volta?”, botava no carona de novo e eu rumava pro motel. Espelhos, senhores, preciso de muitos espelhos pra reforçar que isso realmente está acontecendo comigo.

Que boca. Lábios de travesseiro, fofos, enormes, de-li-ci-o-sos. Braços, braços mais longos que minhas pernas, barriga, peitoral, bunda, tudo rasgado por uma natureza firme, que parece saber, parece nada, que sabe da maravilha que criou.

Ah, como eu passei bem.

Alex morava numa edícula no fundo de uma casa com mais alguns jogadores. Casa de homem suja. Vocês veem por aí.

No primeiro encontro, para deixá-lo mais seguro, topei o sexo no muquifo. Colchão fedido gozado por mais de mil manos colocado no chão da sala. Pós-coito, fui caçar minha calcinha e uma barata a encontrou antes de mim. Por isso, depois muito gentilmente optei pelo motel, que eu pagava, claro. Pagava e pagava feliz. Pagava e pagaria muito mais se fosse preciso. O homem valia tudo isso.

Acontece que, óbvio, não era só eu quem sabia que Alex era um deus. Homem desses é igual melancia, você nunca come sozinha. (Infame, mas true.)

Ai, me alonguei. É que Alex foi se acomodando. “Me pega ali no lanche [onde ele fazia um bico] e saímos.” Passo no lanche, espero no carro, pelo retrovisor, vejo Alex atravessar a rua e conversar com alguém dentro de outro carro, ele volta pro lanche. O corsinha arranca, para ao meu lado, a moça: “Oi, gata, você tá ficando com o Alex?”. “Olha, aí você tem que ver com ele não comigo, gata”, respondo.

Gata de cu é rola. Te conheço, mocra? Eu hein, fico esperando o cara fritar hambúrguer e ainda tomo enquadro na rua. No me gustó.

Alex chega, senta ao meu lado e toda a suposta irritação vai por terra. “Você pode passar em casa pra eu tomar um banho?” “Poooossso”, derreto.

O script vocês já conhecem. Casa, bar, motel, deixo ele na porta e sigo saStisfeita.

Não questionava muito os papéis, estava comendo muitobemobrigada, qual o problema de pagar tudo? O cara num tinha grana, num dei de ser feminista? Agora pratica.

Até o dia em que Alex cagou na trilha. E eu precisei do meu irmão pra enxergar a bosta. Toquinho a cobrar (como de costume), ligo de volta. Combinamos o horário. Peço camisinha pro bróder, que, bem-aventurado, usa o mesmo número. Ele dá, mas não sem antes alfinetar: “Mas nem camisinha o cara compra?”. “Não, e daí?” Abro o bar dos meus pais em busca de um vinho. Ele me fulmina: “Na boa, o cara te liga a cobrar, te espera na porta de casa, você paga o motel, leva a camisinha, deixa ele na volta e ainda quer levar um vinho dos coroas? Você tá sendo trouxa”.

“Rapaz, tu é mais novo, fica aí na tua que eu cuido da minha.”

Aquilo acendeu uma luz.

Mas eu num ia perder de ceiar aquela maravilha. Passei, fisguei, fomos prum bar, ele falou algo de “não entrou o pagamento ainda”, escolhi um boteco modesto. Tomamos uma, duas, “Vamos nessa?”, sugeri. Pediu a conta. Chegou, botei minha parte e fui ao banheiro. Volto pra mesa e ele, “Tá faltando dinheiro na conta o garçom disse”. Abro a pastinha, só tinha a minha grana lá dentro, Alex de fato tava folgado pra caralho.

Paguei a conta toda, fomos ao motel, coisalindadesever Alex debaixo do chuveiro emcimaembaixo de mim pela última vez.

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